segunda-feira, 24 de julho de 2017

DR. HÉLIO DESTACA IMPORTÂNCIA DE ESTUDO INÉDITO DE PROFESSORES DA UFBA SOBRE EFEITOS DA EROSÃO NO LITORAL BAIANO, INCLUINDO MUCURI

Despertou grande interesse do vereador Hélio Alvarenga Penha, o Dr. Hélio, o resultado de um estudo inédito desenvolvido pelos professores José Maria Landim Dominguez, Abilio Carlos da Silva Pinto Bittencourt e Junia Kacenelenbogen Guimarães, do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Ufba). O trabalho trata dos efeitos da erosão costeira que vem destruindo a orla de várias cidades, inclusive Mucuri, abrangendo o período de dez anos – de 2006 a 2016.


“Assim que tomei conhecimento desse trabalho dos professores da Ufba, achei simplesmente fantástico e de grande riqueza de dados. Minha intenção é levantar o assunto logo nas primeiras reuniões da Câmara, depois do recesso, no início de agosto”, disse Hélio. A pesquisa será publicada no livro “Panorama da Erosão Costeira no Brasil”, do Ministério do Meio Ambiente e editado pelo professor Dieter Muehe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A Ufba é responsável pelo levantamento nos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Paraíba e analisa os anos de 2006 e 2016.

“Vou verificar com a presidência da Casa até mesmo a possibilidade de convidarmos um dos professores envolvidos nos estudos para uma palestra na cidade”.


Ação fluvial

Uma matéria especial sobre o assunto foi publicada no jornal Correio da Bahia, com assinatura da jornalista Thais Borges. A mudança na paisagem - e a consequente diminuição de certos pontos do litoral baiano são fruto de uma variação natural que ocorre nas áreas onde há desembocaduras fluviais. No caso de Mucuri e Prado, por exemplo, o litoral é a foz dos Rios Mucuri e Jucuruçu, respectivamente. Em dez anos, a área de continente das duas cidades foi reduzida em até 400 metros e 900 metros, respectivamente.


“Tanto pode ter erosão, que é um recuo da linha de costa continente adentro, como pode ter progradação, que é o avanço da linha de costa mar adentro. Toda região de desembocadura fluvial é muito instável, porque é um embate entre as ondas e o rio”, explica o professor José Landim.

E a transformação é rápida: pode ser observada em poucos anos. Para dar uma ideia, as previsões de aumento do nível do mar devido ao aquecimento global indicam a subida de um metro em um século. Ou seja, em dez anos, o mar subiria ‘apenas’ 10 cm.

De acordo com Landim, dos mil quilômetros do litoral baiano, cerca de 250 quilômetros - ou seja, um quarto do total - são sujeitos às maiores variabilidades de linha de costa, associados a desembocaduras fluviais (veja no mapa, nos ícones em vermelho). Mas não quer dizer que o restante esteja fora de perigo, embora a mobilidade da linha seja menor. Mucuri chegou a decretar emergência devido à erosão em maio.


Mucuri já perdeu 400 metros de área de continente

Em Mucuri, o prejuízo recente foi de R$ 6,1 milhões, também de acordo com a Defesa Civil. Quatro ruas horizontais, paralelas à praia, sumiram. Outras cinco transversais também. Pelo estudo dos professores do Instituto de Geociências da Ufba, a erosão na costa chegou a reduzir 400 metros, entre 2006 e 2016. 

O mapa acima mostra como Mucuri era em 2006, vista por satélite. Já a linha em vermelho indica como a linha da costa ficou em 2016 (Fonte: José Maria Landim Dominguez, Abilio Carlos da Silva Pinto Bittencourt e Junia Kacenelenbogen Guimarães, professores do Instituto de Geociências/Ufba)

Adilson, da Pousada Kambuká

O administrador da pousada Kambuká, Adilson Júnior, já não sabe o que fazer. Com a pousada em funcionamento há 30 anos, os custos para mantê-la de pé desde 2010 só aumentaram. Só com matéria-prima – incluindo as pedras para fazer uma contenção na frente do empreendimento – já gastou cerca de R$ 550 mil. Além disso, ele estima que a ocupação tenha caído em até 80%, em oito anos. “Fora uma parte da pousada que o mar levou. Eu perdi uns 600 m² de área livre da pousada, que tem quase 6 mil m² no total. Hoje, qualquer ressaca marítima que vem entra água na nossa piscina”.

Segundo o prefeito de Mucuri, José Carlos Simões, o trecho mais crítico é uma distância que vai da beira da praia até a localidade chamada de Vila da Suzana.  Em 10 anos, ele estima que o rombo já chegou a R$ 20 milhões, incluindo destruição total de hotéis, pousadas, casas e barracas.

Prefeito Carlos Simões
“Toda a cidade foi construída às margens da Orla. Nós percebemos que estávamos em situação de emergência quando mais um hotel, uma pousada e uma casa foram abaixo. Aí pensamos: ‘daqui a pouco vai ser a escola, o pronto socorro e o fórum, se a gente não tomar providência”.

Mucuri
A providência veio com o decreto de emergência. Tanto Mucuri quanto Prado já estão elaborando projetos de engenharia para submeter ao governo federal, a fim de angariar recursos para as obras. Na primeira, será uma obra de ‘engordamento da praia’ – aumentar a área de areia, enquanto a outra deve construir ‘espigões’ para contenção.

“O decreto possibilita contratações emergenciais para contenções que venham retardar o avanço do mar. O que a gente tem observado é que a própria população tenta fazer esse trabalho colocando pedras, saco de areia e todo tipo de contenção, mas não resolve o problema. Então, é necessário fazer uma obra estruturante e contar com apoio da Defesa Civil nacional e do estado para dar uma resposta à população”, explica o superintendente da Sudec, Paulo Sérgio Menezes.


Uma obra de engordamento da praia, que é uma das que oferece melhores resultados hoje, segundo o professor Landim, pode chegar a R$ 50 milhões, em alguns casos. As intervenções já foram realizadas em cidades do Espírito Santo e em Jaboatão dos Guararapes (PE).

O prof. Landim explica: “Qualquer ocupação deve obedecer uma faixa de recuo, medida a partir da linha de preamar (maré alta), considerando os diferentes processos que ocorrem da linha de costa, na qual seria proibida a construção de edificações permanentes. A largura desta faixa deve ser determinada para cada trecho de linha de costa a ser ocupado”.

Hoje, não há nenhuma determinação na costa além da delimitação pertencente à União, de 33 metros, e de uma lei da Constituição estadual, de 1989, que proíbe construções particulares a menos de 60 metros a partir da linha de preamar.

“A erosão é um processo natural, por isso, essas faixas (próximas ao rio) não devem ser ocupadas de maneira nenhuma. Tudo nessas faixas é vulnerável”, explica o professor. De acordo com Landim, a faixa de recuo de cada local deve ser calculada individualmente - há localidades onde ela pode chegar a mais de 200 metros. 

Prado
Na cidade de Prado, de acordo com o secretário Luiz Dupin, desde 2013, o impacto tem sido maior. Foi nesse período que a barra do Rio Jucuruçu foi em direção ao centro da cidade. A erosão, que acontecia principalmente no Balneário de Guaratiba, mudou de direção.

“O mar começou a comer uma faixa litorânea muito grande. Estamos numa situação caótica. O La Isla perdeu boa parte da frente e quase todas as barracas de praia foram destruídas. É muito angustiante, porque a gente vê as pessoas passando dificuldades, e a geração de emprego e renda sendo ameaçada". O prejuízo em Prado chega a R$ 6,2 milhões, segundo a Defesa Civil do Estado (Sudec).

“Em Mucuri, algumas experiências recentes de recuperação da orla funcionaram em alguns trechos da praia, mas vejo que o tamanho do problema é bem maior”, comentou o vereador.



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