segunda-feira, 4 de setembro de 2017

PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE DE NANUQUE PODE DEIXAR CÂMARA DIVIDIDA MAIS UMA VEZ

PROJETO DE LEI DEVE SER SUBMETIDO A VOTAÇÃO AINDA ESTE MÊS

Da mesma forma que aconteceu em abril deste ano, quando os vereadores de Nanuque ficaram divididos na votação do Projeto de Lei (PL) nº 03/2017, de autoria do prefeito Roberto de Jesus (PSDC), que autorizou o Município a cobrar na Justiça dívidas como IPTU e outras, agora a polêmica é com relação ao Projeto de Lei nº 26/2017, com data de 7 de agosto, também assinado por Roberto, que autoriza o Poder Executivo a instituir a Fundação Municipal de Saúde, organismo definido como "fundação estatal com personalidade jurídica de direito privado", com a finalidade de prestar os serviços de saúde e de assistência médico-hospitalar.

PRIMEIRA REUNIÃO INTERNA
DOS VEREADORES ACONTECEU DIA 18

Quatro meses atrás, o projeto do IPTU terminou com votação empatada – seis vereadores votaram contra e seis ficaram a favor, cabendo à presidente Rozilene Ramos Almeida, a Nininha (PSDB), o voto de desempate, que foi pela aprovação da matéria.

NOVA POLÊMICA- Desde o início de agosto que os vereadores começaram a discutir, internamente, o projeto de privatização da saúde. A tendência é pela derrubada do documento, que poderá ser colocado em votação agora em setembro, embora defensores do prefeito sinalizem expectativa de sua aprovação. 

Segundo alguns vereadores, a qualquer momento, é esperada a presença do prefeito Roberto na Câmara, para fazer a defesa do projeto e apressar sua tramitação.


Pelo teor polêmico do projeto, exatamente em uma área vital para todos, que é a saúde pública, os vereadores entendem que é imprescindível conhecer detalhadamente o documento, o que ele vai trazer de positivo para a população, quais os riscos de dar errado e piorar ainda mais a situação, bem como verificar experiências de outras cidades.

AÇÕES TERÃO COMANDO DO PREFEITO

O projeto do prefeito estabelece a criação de um Conselho Curador, que constitui o órgão superior de direção, fiscalização e controle da fundação, composto por 11 membros titulares, sendo mais da metade (7) indicados pelo prefeito, incluindo o secretário municipal de Saúde, correspondendo a 63,6% do conjunto; os 36,4% restantes teriam a seguinte representação: um indicado pela Câmara de Vereadores, um representante da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, um membro indicado pelo Conselho Municipal de Saúde e um representante indicado pelos servidores municipais.

Ainda de acordo com o texto do projeto, uma Diretoria Executiva, órgão responsável pela gestão da fundação, seria inteiramente subordinada ao Conselho Curador, com as funções de diretor-presidente, diretor administrativo-financeiro, diretor assistencial e diretor técnico.

Quanto ao regime de emprego, o modelo será regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com carteira de trabalho.

O prefeito justifica, considerando ser esta "a melhor solução para o gerenciamento definitivo do Hospital Municipal", já que a fundação teria "independência para convênios e busca de alternativas para outras fontes de financiamentos, além das já garantidas por convênios federais".

Por outro lado, os vereadores querem ir a fundo no assunto. Entendimentos de alguns especialistas do campo jurídico fundamentam-se no artigo 196 da Constituição Federal, onde consta que a saúde é dever do Estado e de todos os entes federativos (União, Estados e Municípios). Outra lei federal, nº 8.080/90, destaca que compete diretamente aos municípios promover a organização, controle, avaliação, gestão e execução das ações e serviços de saúde pública.

"A função da Câmara é de legislar, é de fiscalizar, é de corrigir. Um projeto de tamanho peso precisa ser analisado com muito cuidado, e todos os vereadores aqui têm a responsabilidade de cuidar dos interesses da população. Transferir a saúde de Nanuque para uma entidade privada pode ser interessante para alguns, para uma minoria, mas nocivo e até perverso para a maioria dos nanuquenses. Por isso, precisamos estar atentos", alertou o vereador Antonio Carlos Aranha Ruas (PSD), que é membro da Comissão de Redação, Justiça e Legislação da Câmara, ao lado de Solon Ferreira (PMDB) e Suzi Bouzada (REDE).

EXEMPLOS - Há casos de cidades onde as fundações foram alvo do Ministério Público do Trabalho, exatamente porque os projetos possibilitavam a terceirização de serviços fins, considerando a contratação de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais da área de saúde, que devem, por lei, ingressar no serviço público por meio de concurso. "Sei que cada caso é um caso, mas precisamos estar atentos e dar a melhor orientação ao prefeito para melhorar a nossa saúde, é o que todos queremos".

ERNANE FREIRE


Na manhã do dia 18/8, os vereadores estiveram reunidos na Câmara para tratar do assunto. O diretor do Hospital Lourenço Westin, da vizinha cidade de Carlos Chagas, Ernane Freire, foi convidado a falar sobre o assunto.  Com experiência em gestão hospitalar, ele foi cauteloso: "Quando se mistura o público e o privado,  acabam ocorrendo interesses particulares, que envolvem cabide de empregos, projeção para se fazer um nome, enfim, interesses particulares que fogem do interesse que é servir e atender, prejudicando a operação, inviabiliza financeiramente, presta um serviço muito inferior, porque não se demite, não se pune, não se cobra, isso atrapalha muito a gestão".


Os vereadores concordam que o assunto precisa ser discutido mais profundamente, antes de ser encaminhado a plenário para votação. Outras reuniões internas irão acontecer para se formar uma opinião norteadora do parecer da comissão ao projeto.

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