PROJETO DE LEI DEVE SER SUBMETIDO A VOTAÇÃO AINDA ESTE
MÊS
Da mesma forma que aconteceu em abril deste ano, quando
os vereadores de Nanuque ficaram divididos na votação do Projeto de Lei (PL) nº
03/2017, de autoria do prefeito Roberto de Jesus (PSDC), que autorizou o
Município a cobrar na Justiça dívidas como IPTU e outras, agora a polêmica é
com relação ao Projeto de Lei nº 26/2017, com data de 7 de agosto, também assinado
por Roberto, que autoriza o Poder Executivo a instituir a Fundação Municipal de
Saúde, organismo definido como "fundação estatal com personalidade
jurídica de direito privado", com a finalidade de prestar os serviços de
saúde e de assistência médico-hospitalar.
PRIMEIRA REUNIÃO INTERNA DOS VEREADORES ACONTECEU DIA 18 |
Quatro meses atrás, o projeto do IPTU terminou com
votação empatada – seis vereadores votaram contra e seis ficaram a favor,
cabendo à presidente Rozilene Ramos Almeida, a Nininha (PSDB), o voto de
desempate, que foi pela aprovação da matéria.
NOVA POLÊMICA- Desde o início de agosto que os vereadores começaram a
discutir, internamente, o projeto de privatização da saúde. A tendência é pela derrubada do documento, que poderá ser colocado em votação agora em setembro, embora defensores do prefeito sinalizem expectativa de sua aprovação.
Segundo alguns vereadores, a qualquer momento, é esperada a presença do prefeito Roberto na Câmara, para fazer a defesa do projeto e apressar sua tramitação.
Pelo teor polêmico do projeto, exatamente em uma área
vital para todos, que é a saúde pública, os vereadores entendem que é
imprescindível conhecer detalhadamente o documento, o que ele vai trazer de
positivo para a população, quais os riscos de dar errado e piorar ainda mais a
situação, bem como verificar experiências de outras cidades.
AÇÕES TERÃO COMANDO DO PREFEITO
O projeto do prefeito estabelece a criação de um Conselho
Curador, que constitui o órgão superior de direção, fiscalização e controle da
fundação, composto por 11 membros titulares, sendo mais da metade (7) indicados
pelo prefeito, incluindo o secretário municipal de Saúde, correspondendo a
63,6% do conjunto; os 36,4% restantes teriam a seguinte representação: um indicado pela Câmara de Vereadores, um representante da
Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, um membro indicado pelo Conselho
Municipal de Saúde e um representante indicado pelos servidores municipais.
Ainda de acordo com o texto do projeto, uma Diretoria
Executiva, órgão responsável pela gestão da fundação, seria inteiramente
subordinada ao Conselho Curador, com as funções de diretor-presidente, diretor
administrativo-financeiro, diretor assistencial e diretor técnico.
Quanto ao regime de emprego, o modelo será regido pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com carteira de trabalho.
O prefeito justifica, considerando ser esta "a
melhor solução para o gerenciamento definitivo do Hospital Municipal", já
que a fundação teria "independência para convênios e busca de alternativas
para outras fontes de financiamentos, além das já garantidas por convênios
federais".
Por outro lado, os vereadores querem ir a fundo no
assunto. Entendimentos de alguns especialistas do campo jurídico fundamentam-se
no artigo 196 da Constituição Federal, onde consta que a saúde é dever do
Estado e de todos os entes federativos (União, Estados e Municípios). Outra lei
federal, nº 8.080/90, destaca que compete diretamente aos municípios promover a
organização, controle, avaliação, gestão e execução das ações e serviços de
saúde pública.
"A função da Câmara é de legislar, é de fiscalizar,
é de corrigir. Um projeto de tamanho peso precisa ser analisado com muito
cuidado, e todos os vereadores aqui têm a responsabilidade de cuidar dos
interesses da população. Transferir a saúde de Nanuque para uma entidade
privada pode ser interessante para alguns, para uma minoria, mas nocivo e até
perverso para a maioria dos nanuquenses. Por isso, precisamos estar
atentos", alertou o vereador Antonio Carlos Aranha Ruas (PSD), que é membro da
Comissão de Redação, Justiça e Legislação da Câmara, ao lado de Solon Ferreira (PMDB) e Suzi Bouzada (REDE).
EXEMPLOS - Há casos de cidades onde as fundações foram
alvo do Ministério Público do Trabalho, exatamente porque os projetos
possibilitavam a terceirização de serviços fins, considerando a contratação de
médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais da área de saúde,
que devem, por lei, ingressar no serviço público por meio de concurso.
"Sei que cada caso é um caso, mas precisamos estar atentos e dar a melhor
orientação ao prefeito para melhorar a nossa saúde, é o que todos
queremos".
ERNANE FREIRE
Na manhã do dia 18/8, os vereadores estiveram reunidos na
Câmara para tratar do assunto. O diretor do Hospital Lourenço Westin, da
vizinha cidade de Carlos Chagas, Ernane Freire, foi convidado a falar sobre o
assunto. Com experiência em gestão hospitalar,
ele foi cauteloso: "Quando se mistura o público e o privado, acabam ocorrendo interesses particulares, que
envolvem cabide de empregos, projeção para se fazer um nome, enfim, interesses
particulares que fogem do interesse que é servir e atender, prejudicando a
operação, inviabiliza financeiramente, presta um serviço muito inferior, porque
não se demite, não se pune, não se cobra, isso atrapalha muito a gestão".
Os vereadores concordam que o assunto precisa ser
discutido mais profundamente, antes de ser encaminhado a plenário para votação.
Outras reuniões internas irão acontecer para se formar uma opinião norteadora
do parecer da comissão ao projeto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário