sexta-feira, 7 de abril de 2017

NOVELA SEM FIM: 14 ANOS DEPOIS DO CONTRATO ASSINADO COM O MUNICÍPIO, COPASA VOLTA A NANUQUE PARA AUDIÊNCIA PÚBLICA


A história é velha e cheia de lengalengas, informações desencontradas e o escambau, mas ainda consegue gerar muito pano pra manga e ajuda a enfeitar o discurso de sobrevivência para alguns políticos. O assunto é o contrato milionário que foi celebrado entre Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) e o Município de Nanuque, em julho 2004. Uma novela interminável.

Quase 13 anos depois, a Prefeitura tenta mobilizar a população para uma nova audiência pública, marcada para a próxima terça-feira, 11 de abril, às 8 horas, na Câmara Municipal. E o assunto vem em forma de café requentado: discutir relação - a situação contratual e outras pendências ligadas à prestação de serviços pela empresa. Mas, é claro, ainda há quem beba café requentado sem reclamar. E com leite quente desce bem.

COPASA MALDITA E EXCOMUNGADA

Tanto se falou a respeito do contrato, que a imagem da empresa é de maldita e excomungada, quiçá de um mal necessário. Só que a convivência entre Copasa e Nanuque já dura mais de 40 anos, vem desde a década de 1970. No início foi de amorzinho pra lá e pra cá, beijinhos e lua-de-mel, mas de 2004 até aqui, desgraçou-se em muitos tapas e ausência de beijos.

Há 13 anos, anunciou-se com alarde que a empresa investiria em Nanuque cerca de R$ 20,6 milhões em obras de saneamento na sede e nos distritos de Gabriel Passos e Vila Pereira. O contrato foi renovado por mais 30 anos, ou seja, até 2034.

Pelo documento, a empresa não somente manteria o abastecimento de água, como assumiria também os serviços de esgotamento sanitário – coleta e tratamento de esgoto para 100% da população.

PAU NO LOMBO

Pelo fato de não cumprir, no tempo acordado, as obrigações que assumiu, a Copasa passou a levar pau no lombo, da boca de vereadores e de pretendentes a vereadores e até de candidatos a prefeito. A empresa começou a cobrar a desgraçada taxa de esgoto, sem oferecer o serviço. Estação de tratamento, então, nada de nada!

Mais pau no lombo.

O tempo passou, e a Copasa continuou atendendo a cidade, debaixo de gritos, queixas e pesada tolerância. A população foi se acostumando.

Nove anos depois da assinatura do contrato, já em 2013, intervalo para mexer na maquilagem e, de repente, a empresa propagandeava uma “nova fase em Nanuque”, anunciando que mais de 20 mil famílias seriam beneficiadas com “a maior obra de saneamento da história da cidade”. Ou seja, o que já deveria ter sido, de fato, executado a partir de 2004, levou mais nove anos para ser – digamos – prometido.

Que coisa linda! A Copasa anunciava que estava “iniciando”, em junho de 2013, a tal da “nova fase de execução das obras do sistema de esgotamento sanitário (SES) de Nanuque, com previsão de término em dezembro de 2014, incluindo construção de redes que deveriam conduzir todo o esgoto gerado na cidade para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), que teria capacidade inicial de tratamento de 36 litros por segundo, amenizando os riscos à saúde e trazendo maior qualidade de vida à população”.

No palco que se arma para a audiência pública do dia 11, o pacote de queixas contra a empresa leva toneladas de insatisfações, entre elas até um ofício do atual prefeito Roberto de Jesus, no qual se requer a suspensão da cobrança da taxa de esgoto no Município. Aliás, suspensão já requerida outras vezes, sem sucesso. A taxa permanece encarecendo as contas.

Outro item a ser abordado, com certeza, tratará de uma obscura “renúncia fiscal” que teria sido assinada pelo ex-prefeito Ramon Ferraz, aliviando ou perdoando a empresa do pagamento de uma dívida em torno de 88 milhões de reais.

Pra completar, em abril do ano passado, o ministro Herman Benjamim, do Superior Tribunal de Justiça, atendendo a recurso especial decorrente de ação popular, tornou sem efeito aquele contrato celebrado em 2004. E agora, José?

No entendimento do ministro, houve violação do processo licitatório na época, já que a Prefeitura e a Copasa, com base em lei autorizativa abençoada pela Câmara Municipal, assinaram um convênio para exploração dos serviços de abastecimento de água no município e coleta, tratamento e destinação de resíduos sólidos, com validade de 30 anos, sem observar os procedimentos legais para a dispensa ou inexigibilidade de licitação.

Segundo despacho do ministro em 28 de abril de 2016, se fazia necessário em 2004 o prévio processo administrativo para a formalização do convênio que apurasse a falta de competição em relação aos serviços públicos em questão. O Ministério Público Federal já havia opinado nos autos pelo provimento do recurso e pela anulação do contrato. Assim, para o STJ, desde 2004 que a Copasa permaneceu prestando serviços em Nanuque de forma irregular.

TUDO PARA PIRAR O CABEÇÃO DO POVO

Tanta coisa transitando pelos canos da Copasa, além água e esgoto às casas e ao pobre Rio Mucuri, que novamente se anuncia audiência pública para mexer e remexer naquele contrato que, sem demora e sem decisões de efeito legal, vai acabar chegando ao seu final, em 2034, sem desaguar em um final feliz para a população. Por falar nisso, 2034 será ano de Copa do Mundo. De repente...

Enfim, aguardemos a audiência, e que ela aponte o caminho para que fatos novos e concretos possibilitem alguma razão de contentamento para a população de Nanuque, que até aqui só tem passado raiva.

Por Ademir Rodrigues de Oliveira Jr.



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